quinta-feira, 4 de agosto de 2011

historinhas em pílulas

Depois da viagem e do longo parênteses aberto com ela neste blog, voltemos a Santo Antonio da Platina nos anos de 1920, quando Candinho era uma criança de menos de 10 anos.

A festa do Padroeiro e a fogueira acesa com lagarto

O padroeiro da cidade era, como se poderia esperar, Santo Antonio, e a festa mais aguardada do calendário local era, justamente, a celebração do dia do Santo, que acontecia na praça principal, diante da Igreja Matriz: barraquinhas de jogos, comidas e prendas, a banda Lyra Platinense, que sempre tocava nessas ocasiões, devidamente posicionada no coreto que ficava no centro da praça. De noitinha juntava-se uma pequena multidão a espera da fogueira ser acesa com um espetáculo de fogos de artifício, o que era o ponto alto da festa. A lenha era empilhada, tronco sobre tronco, até uma altura de 8 a 10 metros e, entre essas madeiras grossas e no miolo da fogueira, eram colocados pedaços de madeira mais finos – gravetos, cepilhos, cavacos e palha de milho, e o grande momento era quando a pirâmide ia ser acesa, o que marcava também o início das festividades. O fogueteiro oficial esticava um arame desde o centro da pilha até uma esquina mais abaixo, a 70 ou 80 metros de distância, e sobre esse varal era colocado o chamado lagarto, um foguete incendiário feito com pólvora que corria por ele. No momento certo, o fogueteiro acendia o pavio do lagarto e este corria rapidamente sobre o arame desde a esquina até o centro da pilha, onde então explodia e dava a partida no espetáculo de fogos. Os gravetos, cepilhos, palhas e cavacos então se acendiam, fazendo arder os troncos maiores, até tocar fogo em toda a enorme pira, sob os aplausos entusiasmados dos assistentes. Enquanto isso se dava, A Lyra Platinense, devidamente posicionada no coreto a uma distância segura, atacava um dobrado ou uma marcha. E a festa então começava oficialmente.

Eletricidade

Cândido e Fernandes tinham adaptado um dínamo ao vapor da serraria e, desde esse dínamo, esticaram alguns fios pela cidade, sobre postes que eles mesmos produziram. Instalaram bocais com lâmpadas e interruptores em algumas casas e logradouros públicos que acendiam no fim da tarde e ficavam acesas até lá pelas 22h... Mas a luminosidade das lâmpadas incandescentes era muito fraca, irregular e instável, e a experiência não durou muito tempo. Ao que saiba Candinho, a história nunca registrou o fato de que os primeiros a levarem a energia elétrica para a cidadezinha, nos idos de 1924, foram os sócios da serraria. Por esses dias, o prefeito e grande líder político local era o Coronel Capucho.

Daniel aproveitou a energia elétrica para inventar uma brincadeira engenhosa: Cândido já estava se desligando da serraria e montando sua casa comercial no centrinho da cidade, a uma quadra da Praça da Matriz, e tinha puxado a eletricidade até lá e instalado uma tomada na parede. Daniel então ligou um fio bem fininho nas duas saídas da tomada, passou esse fio pelo canto do balcão e fixou a outra ponta numa perfuração feita numa moeda que foi depois mergulhada numa bacia com água. No período em que o dínamo ficava ligado não parava de passar uma leve corrente por aquele fio. A quem entrava no armazém, Daniel desafiava:

- Se você conseguir pegar a moeda de dentro da bacia, ela é sua.

Quem encostava a mão na água, tomava um choque leve. Gente que nunca tinha sabido na vida que a energia elétrica existia, tomava contato com ela de modo a nunca mais esquecer disso. Vários iam mais de uma vez desafiar a eletricidade, achando que podiam vencê-la pela velocidade ou pela esperteza, e o máximo que conseguiam era derramar água da bacia com o solavanco do choque.

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