Fala Candinho:
Como era um município recém criado, as ruas de Santo Antonio da Platina eram sem revestimento nenhum, raramente com calçada. A maioria das casas era de madeira, algumas poucas construidas em alvenaria e com cobertura de telhas de cerâmica. A cidade, acredito, não tenho uma precisão, devia ter, no máximo, na época, de 3 a 4 mil habitantes, algumas ruas já delineadas e duas praças: a Praça da Matriz tinha um coreto no meio, onde a banda Lyra Platinense tocava duas vezes por semana, e os jovens e as famílias iam flertar e fazer footing... Uma quadra para baixo ficava a praça da cadeia, chamada assim porque existia uma cadeia de madeira situada bem no centro dela – a residência e a casa comercial de meu pai viriam a ser ali algum tempo depois. O cinema, que abriria em 1925, ficava entre as praças da cadeia e a da matriz. A prefeitura ficava também na esquina da Praça da Matriz. Quando chegamos em Santo Antonio da Platina, em 1923, meu pai havia vendido o sítio no bairro do Ubá e se associado a uma serraria em Santo Antonio da Platina com o senhor Fernandes. Com a entrada de meu pai como sócio, que havia investido certa importância em dinheiro, a função principal era de localizar madeira para compra e o transporte das toras para a serraria. Meu pai contava também com um ex-escravo de família, que tinha sido de meu avô, o Véio Dito, que era o encarregado do transporte dessas madeiras. O Véio Dito então percorria a região de Santo Antonio da Platina e efetuava inicialmente a compra das perobas ainda não derrubadas e outras madeiras de lei, e meu pai fazia uma visita posterior e efetuava os pagamentos, promovia a derrubada dessas árvores e o corte das toras de acordo com as necessidades e a colocação nas carretas, onde o Véio Dito tinha uma função de carreiro, como era chamado aquele que conduzia as carretas de boi, até levar para Santo Antonio da Platina, na serraria, que ficava em meio a um pasto, ao lado direito da entrada de quem vinha da região de Jacarezinho e do bairro do Ubá, já mencionado. Além do barracão e do pasto, tinha uma determinada área desse terreno reservada para o plantio de cana, que servia para a alimentação subsidiária dos bois que iam nas carretas para puxar madeira. Na serraria passamos a residir numa construção anexa... Meu pai havia trazido também do bairro do Ubá uma quantidade de algodão que havia sido colhido e não havia sido comercializado. Ele construiu uma espécie de tulha com madeira da própria serraria, que servia de cama para nós: eu, meu irmão Edward, meu irmão Valdemar, meu irmão Daniel. Nós subíamos por uma escada até o alto dessa tulha, era colocado um lençol sobre o algodão e cada um se arrumava de alguma forma para dormir, e era, por sinal, muito agradável, porque estava numa época de bastante frio e o algodão nos mantinha aquecidos, e ainda uma coberta era colocada sobre nós.
Nessa época em Santo Antonio da Platina, a família mais importante que morava na cidade eram os Capucho. Tinha também os Rezende, o capitão e a sua família... Como era mesmo que se chamava aquele capitão? Branco Pombo tinha uma casa comercial, os Nepomuceno, nossos parentes, também tinham casa comercial, a família Milani de Moura, Pedro Claro de Oliveira, família Giovanetti, que, hoje em dia, um dos descendentes tem cartório em Curitiba, tinha ainda a família do Cícero Ferreira Dias, que, por sinal, foi meu padrinho de batismo. Também uma família de bastante destaque era a família Borges Monteiro, por sinal eram dois irmãos os chefes da família, o Manuel Borges Monteiro e o João... O Manuel, conhecido por Maneco, era gerente da casa Monteverde, filial de uma casa de igual nome sediada em Jacarezinho. Tinha o capitão José Cândido Teixeira, também... Talvez seja esse o capitão que eu não lembrava agora pouco...