sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A Serraria

(Esta postagem, cronológicamente, está entre "Algumas daquelas lembranças de infância que nunca se apagam... " e "Véio Dito". Não que isso seja importante, mas é bom que conste).

Os sócios da serraria acharam por bem comprar uma máquina bem grande e potente que, segundo as informações que Candinho tem, era produzida em Botucatu, no estado de São Paulo. Parece que este foi um dos principais motivos de se fazer a sociedade entre Cândido e o Senhor Fernandes. O ponto mais próximo onde o trem chegava carregando o bruto era Ourinhos, e de lá até Santo Antonio, distante cerca de cinquenta a sessenta quilômetros, tinha que ser puxado por juntas de bois. Cândido e o véio Dito, mais Daniel de contrapeso, viajaram para Ourinhos numa manhã de tempo fechado já no começo de um mês de Junho com friozinho de Inverno, conduzindo trinta e duas juntas, ou sessenta e quatro bois de tração que seriam atrelados dois a dois em uma carreta reforçada para puxar o vapor de muitas toneladas. Foi uma tarefa difícil e pesada, que exigia a máxima atenção para que nenhum detalhe desse errado: eles demoraram quase um dia para carregar e quatro dias para vencer a distância de volta pelas estradas e carreiros da região. Havia sempre, no máximo, oito juntas puxando a carga, enquanto que as demais iam acompanhando atrás, prontas para substituir as que se cansassem. Quando estavam próximos a pontes, rios, ou qualquer outro lugar onde houvesse um declive na estrada, o comboio parava, a carreta era escorada e destacavam-se quatro ou cinco das juntas descansadas que eram postas para puxar a carga ao contrário, freando o movimento natural para baixo e evitando assim que tudo aquilo desandasse e acabasse em um desastre incontrolável. Chegando a Santo Antonio da Platina, foi mais quase um dia inteiro de trabalho, na verdade dois, quase três, se for para considerar o tempo que demorou depois para terminar de chumbar o conjunto e ajustar as correias e rodas dentadas que trabalhariam com a força daquela máquina. Entre vinte e trinta homens tiveram que ser utilizados nessa função. Trabalhando com alavancas, cordas e toras não beneficiadas como rolamentos, empurraram/puxaram o vapor até a plataforma onde seria definitivamente fixado numa pesada sapata e ligado pelas correias a sólidas polias e engrenagens de madeira que movimentavam as serras e esteiras. Foi uma operação grande, trabalhosa e perigosa, quase épica para as condições vigentes, mas nada de mais sério aconteceu, o trabalho foi realizado e, naqueles dias mesmo, a serraria começou a funcionar a todo vapor.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Primeira do Ano

          Ano passado aconteceu muita coisa que, se eu me considerasse um escritor mesmo, acho que teria obrigação de contar, narrar, refletir sobre... Talvez um dia eu faça isso, mas não agora. É quase impossível pensar "bem" sobre coisas muito recentes, ou que ainda não terminaram de acontecer. Em Agosto de 2011, Candinho quase se foi. Não seria de surpreender ninguém se isso acontecesse (afinal, ele já tem 93 anos), mas não foi ainda desta vez, e a torcida é para que não seja tão já, enquanto ele ainda puder permanecer vivo com um mínimo de conforto e qualidade... Já são vários meses sem publicar nada, a última postagem aqui foi feita em meio à crise, não houve muito tempo ou cabeça fria para se pensar em mais nada...
          Bem, agora é outro ano. Os fatalistas de plantão dizem que o mundo acaba no dia 21 de dezembro. Os otimistas incorrigíveis místico/esotéricos falam (de novo) de grandes mudanças, grandes esperanças, grandes possibilidades... Nosotros preferimos ficar no meio do caminho: nem vítimas de um destino imutável que nos oprime, nem Iluminados eleitos para lançar as bases da Nova Era... Mais para pessoas comuns, que fazem o que podem, que batalham para dar à vida algum sentido além das fórmulas prontas, dos discursos acabados... Continuemos. É tudo o que podemos fazer.