terça-feira, 4 de outubro de 2011

Mais histórias e mais personagens

Pesca de peneira
    
Em Santo Antonio da Platina da década de 1920, cada um se divertia como podia. Os filhos de Cândido e os que andavam sempre com eles também gostavam de aprontar, mas havia outras turmas que aprontavam mais. Quando faziam as pescarias, era quase uma coleta de bagres, lambaris e outros peixes menores através de peneiras em córregos que existiam ali nas redondezas. Havia, pela região toda, muitos moinhos de fubá e monjolos, todos movidos a energia hidráulica pela água que era desviada do curso dos ribeirões através de umas valas rasas, que ficavam repletas de pequenos peixes, como lambaris, bagres e cascudos. A turma, quase sempre liderada por um dos rapazes mais velhos, Daniel ou Valdemar, escolhia um dos canais, dividia-se em dois grupos menores que se afastavam cerca de quatrocentos a quinhentos metros um do outro ao longo do canal e começavam a pescaria: os maiores entravam na vala com as peneiras e iam caminhando um em direção ao outro que estava lá longe, passando a peneira pelo fundo até recolher os peixes, que eram jogavam nas margens, onde os pequenos os recolhiam ainda vivos nos embornais. Iam um em direção ao outro, até que se encontravam em algum ponto e davam por encerrada a pescaria. Era comum recolherem, nessas ocasiões, vinte a trinta quilos de pescado, o que, na volta para casa, mobilizava toda a família para a limpeza e preparo, que consistia em salgar, fritar e guardar para a conservação em grandes latões cheios de banha de porco, já que não havia geladeiras naquela época.

Os cães e o gato
 
            Teve um dia que esse pessoal saiu para pescar de peneira numa dessas valas, e, quando estavam se aproximando do ponto escolhido, pouco antes de chegarem, ouviram uma balbúrdia infernal, latidos de cachorros e miados desesperados. Candinho foi na direção da barulheira, e não teve que procurar muito para ver dois cachorros que estavam pegando um gato, cada um por um lado. O pobre felino já estava todo machucado e completamente desesperado, disputado pelos dois cães, que o mordiam e puxavam. Ele se defendia como podia com suas unhas, mas a desvantagem era clara. O menino foi chegando perto gritando, chutando os cachorros e tentando separar os bichos; agarrou o gato e tentou puxa-lo para fora das bocas dos cães, mas o animalzinho, apavorado e alucinado de dor como devia estar, deu uma unhada na mão de Candinho que rasgou a carne bem fundo, machucou bastante, arrancando um bocado de sangue. Candinho largou imediatamente o bicho e se afastou um pouco. Sua mão estava doendo muito e o sangue corria abundante. Enquanto ele tirava a camisa e a enrolava na mão para tentar estancar a hemorragia, viu que o gato estava começando a entregar os pontos. Todo ferido e sangrando por inúmeros ferimentos, ele parou de se debater, silenciou e foi estraçalhado pelos cães. Candinho tinha enrolado a mão em sua camisa e estava olhando triste para aquela cena sangrenta quando os outros chegaram, logo em seguida. Um deles voltou com Candinho até a cidade para fazer um curativo de verdade. O garoto passou vários dias impressionado com a morte do pobre gato, e muito frustrado por não ter podido impedi-la.

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